sábado, 6 de junho de 2009

Mas, afinal, o que significa envelhecer?


Ontem foi o aniversário de 77 anos do meu avô, e conversar com ele me fez pensar algumas coisas. Ele falava das viagens que já tinha feito e falava de política. Falava da infância que teve na Bahia, e descrevia o sentimento de quando perdeu os pais. Ele conseguia recordar fatos, frases ditas, situações vividas que aconteceram a nada menos que 30 anos. E foi então que eu lhe pedi para falar sobre seus filhos: meus tios e meu pai. Ele me contou sobre o casamento deles, e sobre quando seus netos nasceram. Falou sobre suas lembranças de quando era casado com a minha avó e sobre profissão. Perguntei-lhe, então, sobre seus netos. Porém, dessa vez, a conversa caminhou de forma mais lenta. O dinamismo que existia quando ele falava sobre suas viagens havia sumido. Paracia que ele estava se cansando da conversa. De repente, ele olhou nos meus olhos e me perguntou quantos anos ele estava fazendo. Eu respondi que 77. Ele perguntou se eu tinha certeza, e, tirando a identidade do bolso, pediu-me que visse a data de nascimento e fizesse as contas. Realmente, ele tinha 77 anos, mas dizia possuir 68. No outro segundo ele dizia ter 66 e depois 79. Eu, já com os olhos cheios de lágrimas, disse-lhe que ia ao banheiro.

O motivo do desânimo de meu avô quando lhe perguntei sobre seus netos nada tem a ver com o fato de não nos amar, ou por não gostar de conversar sobre a gente. A confusão sobre sua idade não foi proposital, ou para brincar e descontrair o ambiente. Descobrimos há pouco tempo que ele está com Alzheimer e as lembranças mais recentes são as que se perdem mais rápido. Assim, apesar de conseguir fazer relatos de sua infância com incrível precisão, é incapaz de se lembrar o que fez no dia anterior. Conforme a doença for agravando, seus bisnetos serão esquecidos, depois seus netos, por fim seus filhos, até que ninguém mais será reconhecível por ele.

É, o envelhecimento traz consigo consequências que afetam uma vida, e, às vezes, várias. Uma coisa que eu percebi esse ano, após a descoberta da doença do meu avô, é o quanto os mais velhos tem a nos ensinar. A sabedoria está com eles, e ouvi-los é aprender mais que se possa imaginar. É preciso saber dar valor antes que seja tarde. Não espere a confirmação de uma doença te mostrar o quanto o seu avô é importante, maravilhoso, e o quanto você o ama.

Bom, o que eu tenho a dizer é: valorizem os mais velhos, valorizem seu avô, sua vovó coruja, valorize o velhinho que limpa os corredores, valorize o senhor que você tantas vezes considerou só " mais um velho". Aprenda com eles. E nunca se esqueça...um dia será você! E como diria a sábia frase : "Ah se os velhos pudessem e os jovens soubessem".

Postado por: Fernanda Viana

Um comentário:

  1. Deve ter tirado dez na redação do vestibular, essa aí. :) Que texto bonito, Fê!

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